Uma eleição para Reitor da UFRJ cuja única exigência é o título de Doutor quando quase 90% do corpo docente da Universidade têm o título de doutor, precisa ser repensado pelo Conselho Universitário, para que não se estimule a candidatura de aventureiros. Outro aspecto que vem chamando a atenção é a forma como alguns dos candidatos vem fazendo a sua campanha eleitoral. Será que faixas, santinhos, jornais são as melhores forma de propaganda, quando até nas recentes inssureições nos países do Oriente Médio e da África foram usadas as redes de informação da Internet? A grande contradição, é que alguns Diretores de Unidades vêm usando estas redes para convencer professores, estudantes e técnicos administrativos de suas Unidades a votarem em seus candidatos.
A forma como vem se dando os debates, nos quais são feitas promessas irrealizáveis, vem apequenando o processo eleitoral. Se forem construídos tantos alojamentos e bandejões como vêm sendo prometidos, faltará espaço para salas de aulas no campus da Cidade Universitária. As questões de fundo como não rendem votos, são deixadas de lado. Falar em avaliação docente, avaliação de Unidades, meritocracia acadêmica, profissionalização da gestão e expansão dos Cursos Noturnos de Licenciatura, é um grande sacrilégio. Tudo se critica, desde o Reuni ao trânsito caótico do campus da Cidade Universitária, esquecendo-se que a UFRJ vive um grande apagão cultural, e que está cada vez mais fragmentada. Cada vez temos menos professores em sala de aula, como se o exercício da docência fosse uma atividade de segunda categoria. Não se pode esquecer que na Universidade deve-se produzir conhecimento, e as ideias devem ser livres, sem as amarras do autoritarismo.
A forma como o debate vem se dando, quando alguns candidatos deixam de lado a discussão sobre quais os rumos acadêmicos que a UFRJ deve seguir, para se comportarem como gladiadores e guardiões da moralidade pública poderá mergulhar, mais a frente, a UFRJ numa nova grande crise, esfacelando-a ainda mais. Passadas as eleições, será necessário que todos se envolvam nas discussões da Reforma do Estatuto da universidade, e que a paz volte a reinar.
A UFRJ não pode continuar sendo atropelada pelo Governo Federal, pelas agências de fomento ou por quem quer seja. É preciso que volte a exercer sua autonomia, e recupere a unanimidade que já foi. Os pró-Reitores não podem continuar sendo escolhidos porque são de Unidades com alta densidade eleitoral. Mais importante do que as Unidades as quais pertençam, são os seus perfis acadêmicos.
A UFRJ tem um alunado de excelência, e professores e técnicos administrativos de excelente qualidade. Falta, entretanto, que esta riqueza se traduza na criação de novos conhecimentos, e que a universidade se aproxime mais da Sociedade, que financia este enorme complexo acadêmico. É preciso que as portas da Universidade estejam abertas para receber, com qualidade, mais estudantes. É uma vergonha que só 12% dos brasileiros jovens estejam nas universidades brasileiras, sendo que 70% destes na rede particular. É necessário que o campus de Macaé se expanda e que o Pólo de Xerém se consolide. A interiorização é uma necessidade do estado do RJ. Deve-se lutar por uma segunda fase do Programa Reuni para que estes campi se consolidem. Uma universidade como a UFRJ, com um enorme contingente de mestrandos e doutorandos, precisa aproveitar melhor seus pós-graduandos em sala de aula e nos laboratórios, e acabar de vez com os professores substitutos.
Os concursos para docente devem ser repensados. Eles vêm sendo feitos, nos mesmos padrões de 20 anos atrás, quando a pós-graduação era incipiente. Hoje, não se pode esquecer que são formados cerca de 12000 doutores por ano. Os concursos para Professor Titular têm que ficar abertos durante no mínimo 120 dias. Hoje, em algumas Unidades estes concursos ficam abertos somente durante 30 dias. O debate eleitoral deixou estas e outras questões importantes de lado, caiu em promessas e propostas vazias. Agradar e não descontentar o eleitorado passou a reger os discursos de alguns dos candidatos. Um Reitor deve exercer sua autoridade sem ser autoritário. Promessas e recompensas não cabem mais na UFRJ do século XXI. Um debate vazio de idéias, como está sendo este, levará certamente a uma grande abstenção nesta eleição para Reitor da UFRJ. O modelo de debate adotado, no estilo do ocorrido nas últimas eleições presidenciais, contribuiu para o pouco aprofundamento das questões de fundo. Como candidato a Reitor pela Chapa 99, ao aceitar o modelo de debate que ocorreu, não posso eximir-me de culpa.
Entretanto, gostaria de mais uma vez reafirmar que não somos adversários, somos apenas candidatos a Reitor, e que terminada as eleições, o Reitor eleito deve ter o apoio de todo o corpo social da UFRJ, e dos outros três candidatos. A UFRJ somos todos nós. Por isso é importante votar. Por uma UFRJ autônoma, crítica e plural, onde as idéias prevaleçam sobre os dogmas, e que as promessas de campanha não caiam no esquecimento.
Angelo C. Pinto
Chapa 99